Um retrato fascinante de duas lendas transgêneros

Com “Enigma”, o diretor Zachary Drucker (“The Stroll”) faz outro filme intrigante sobre a história trans. Das calçadas de Nova York, desta vez ela leva a platéia a parisiense glamourosa
Nightclubs e as margens da aristocracia britânica para contar a história de Amanda Lear e April Ashley. O filme é um documentário cronológico direto que confia em imagens de arquivo e entrevistas na mídia daquela época. O mais fascinante é a entrevista de Drucker com Lear, que oferece a “enigma” tensão e conflito muito necessários para equilibrar a convencionalidade do restante dos procedimentos.

Apelidado de “Rainha Branca de Disco”, Lear era um famoso artista e celebridade na década de 1970, enquanto Ashley começou como modelo e se tornou pioneira em defesa dos direitos trans em sua Grã -Bretanha natal. De acordo com Ashley, em cujo livro e lembranças a maior parte do filme é construída, eles se conheceram como showgirls no final da década de 1950 no cabaré parisiense Le Carrosel. Segundo o filme, Lear era conhecido como Peki D’oslo naquela época. Embora Ashley tenha se tornado seu mentor, depois que ambos fizeram a transição, Lear foi inflexível em viver como mulher, então ela negou seu passado e cortou todos que a conheciam antes. Enquanto isso, Ashley foi expulsa por causa de um divórcio confuso nos tribunais britânicos, forçando -a a tentar reivindicar sua identidade como mulher enquanto era tratada como uma aberração.

A dicotomia entre os dois sujeitos, ambos pioneiros idolatravam por muitas mulheres trans contemporâneas, dá a “enigma” sua força narrativa. Usando entrevistas de arquivo, principalmente da TV, Lear e Ashley são questionadas repetidamente se elas eram biologicamente nascidas. Lear nega, enquanto Ashley insiste que ela é “biologicamente masculina e socialmente feminina”. Ambos os confrontos são difíceis de assistir, especialmente no clima atual, quando as pessoas trans são constantemente solicitadas a provar a si mesmas. Lear e Ashley só queriam viver suas vidas e seguir seus sonhos de carreira. É para o crédito de “Enigma” que não toma partido, apresentando os dois caminhos como válidos.

O filme também permite que as mulheres mostrem suas personalidades. Enquanto Lear foi entrevistado por Drucker e Ashley (que morreu em 2021) aparece principalmente em entrevistas de arquivo, ambos recebem tempo amplo para mostrar suas personalidades. April é engraçada e autodepreciativa, aparentemente confortável em sua pele, apesar do constante questionamento de seu gênero. Lear também aparece tão confiante, embora tensão bolhas por baixo, enquanto nega conhecer Ashley ou estar em Le Carrossel. Ela também se recusa a dar seu nome de nascimento ou falar sobre sua vida em termos definitivos. Mas a platéia teria notado isso se Drucker não tivesse entrevistado pessoalmente Lear e a confronte com evidências de seu passado? Lear continua firme por sempre ter sido mulher, mas o filme continua cortando para outras pessoas confirmando sua transição.

A entrevista de Drucker/Lear dá a “Enigma” seu ponto de discussão mais interessante. Enquanto ambos são educados e Drucker mostra calor, também há conflitos e confrontos. Isso levanta questões sobre quanta verdade os pioneiros queer devem seus colegas contemporâneos. Lear escolheu um caminho e conseguiu viver sua vida exatamente como queria. O filme tenta sair e continua citando o livro de Ashley, que a transmitiu. Além disso, existem passagens escritas pelos cineastas e narradas por um ator baseado na vida de Ashley, que parecem inquisitivas demais para Lear. Ainda assim, Lear concordou em ser entrevistada e sua história – incluindo perguntas sobre seu gênero – são registros públicos. “Enigma” não oferece uma opinião definitiva sobre qual caminho é favorável, de Ashley ou Lear. No entanto, as entrevistas de Lear dão uma vantagem distinta e a tornam mais do que o documentário usual que conta a vida de uma pessoa famosa.

Em outros lugares, “Enigma” adere a um formato convencional. Há entrevistas com artistas de Le Carrossel e com historiadores e artistas contemporâneos comentando Ashley e Lear. As cenas com os historiadores contemporâneos não são tão fortes, como se fossem adicionados para contextualizar informações que os cineastas não pudessem fazer organicamente. Uma cena desajeitada mostrando duas pessoas andando pelo Pigalle em Paris enquanto falam da história do desempenho do arrasto prova ainda mais esse ponto.

Lear e Ashley provam ser protagonistas intrigantes para um documentário. A admiração de Drucker por eles aparece claramente. No entanto, “Enigma”, uma produção da HBO que estreou no Festival de Cinema de Sundance, deriva sua força principalmente da determinação de Lear de sempre ser ela mesma. E com isso, o filme pode inspirar coragem em seu público, qualquer que seja sua identidade.

Super Net X

Criado em 2024, o site Super Net X? tem como missão divulgar, de forma honesta, informativa e crítica, tudo o que está relacionado à cultura pop. Aqui, nós contamos as novidades, fazemos matérias de curiosidades, fatos e análises das principais séries e filmes lançados no cinema, TV e streaming. Acompanhe nosso site e nossas redes que estaremos sempre de olho nas novidades para você!

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo